O IMORTAL ZÉ CELSO VERSUS O MORTAL SÍLVIO SANTOS
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O texto de Kiko Nogueira, do Diário do Centro do Mundo (DCM) é um daqueles para ficar eternizado na história do país, não apenas por sua competência em expor verdades, mas sobretudo por revelar a face pequena e mesquinha de Sílvio Santos.

Kiko, neste artigo, traça o retrato de grandeza e imortalidade de José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso que revolucionou o teatro brasileiro e que deixa aos brasileiros um legado fundamental para as próximas gerações enquanto o homem do baú, mortal que é, vai deixando o rastro de sua ignorância e uma frase várias vezes repetida nas tardes de domingo: “Quem quer dinheiro?”.

Ele, Sílvio Santos, só quer dinheiro e nada mais.

O imortal Zé Celso mostrou Silvio Santos como ele é: um milionário mesquinho
Por Kiko Nogueira

De tudo que fez pela arte brasileira, Zé Celso será lembrado, também, por desmascarar Silvio Santos. Durante mais de 40 anos, os dois brigaram por causa da área onde está localizado o Teatro Oficina, em São Paulo. Fundado em 1958, o prédio reformado por Lina Bo Bardi foi tombado pelo Condephaat em 1981. Dono de um terreno nos arredores no bairro do Bixiga, Silvio pretendia construir um edifício e Zé Celso levou o caso para a Justiça, alegando, corretamente, que o empreendimento prejudicaria o teatro.

Em agosto de 2017, eles tiveram uma reunião mediada pelo então prefeito de São Paulo João Dória e o vereador Eduardo Suplicy para tentar uma solução. O vídeo do encontro, divulgado pela turma de Zé Celso, incomodou Silvio porque expôs sua verdadeira face. O momento mais revelador do colóquio é quando Zé lhe cobra generosidade ou algum senso de responsabilidade pública.

— Você é um homem super-rico, supergeneroso!, diz o dramaturgo.
— Eu tenho culpa de ser rico? Eu dei sorte, e daí? Você não deu ainda, problema teu, responde Silvio.
— A gente tem que pensar na cidade, cara. Eu tenho 80 anos e ele tem mais do que eu [Silvio tinha 86]. Daqui a pouco a gente some do mapa. No entanto, a cidade fica. Você sabe disso.
— Eu não quero morrer. Não vou morrer, devolve o apresentador, enquanto os circunstantes se divertem.

Zé Celso estava apelando para um sentimento que seu interlocutor não tem: o de que ele deveria devolver — ao menos pensar em devolver — ao lugar que o acolheu uma parte da fortuna que amealhou ali. Em Nova York, para ficar apenas num exemplo, a sede da ONU está num terreno doado por John D. Rockefeller. Mas Silvio é de outra cepa. Prefere se afundar numa grana que não vai usar e erguer “torres residenciais”.

O sujeito que aparece naquela reunião é o SS da vida real. Não o bufão do domingo, mas um milionário ordinário cuja única motivação é colecionar moedinhas e não morrer. Aos domingos, com sua peruca, uma certa incontinência verbal, o carisma, a nostalgia, é fácil esquecer que ele apoiou Figueiredo, Bolsonaro e ajudou a tornar um país mais burro e mais reacionário.

Quem morreu foi seu inimigo — o poeta que o desmascarou e, agora, é imortal.

 

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