MELHORAMENTOS TRANSFORMA CLÁSSICOS EM HQ
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Três clássicos da literatura brasileira acabam de ganhar adaptações em quadrinhos. Os romances de Lima Barreto (O triste fim de Policarpo Quaresma), Machado de Assis (O alienista) e Raul Pompeia (O Ateneu) tiveram seus textos adaptados e ganharam ricas ilustrações para integrar um box da Melhoramentos, que pretende “fisgar” jovens leitores com essa edição.
O recorte abrange livros publicados entre o final do século 19 e início do 20, trazendo histórias de um leitor voraz que tem planos radicais para mudar o Brasil, o Policarpo Quaresma; um médico que sonha catalogar a loucura humana na Casa Verde, um hospício oitocentista; e o irônico relato de Sérgio, que reúne memórias dos tempos em que viveu num internato para meninos, o Ateneu.
As adaptações têm artistas variados, apesar de o projeto gráfico se manter uniforme. Além disso, a editora oferece breve biografia dos autores em cada edição, relatos dos bastidores das adaptações e informações sobre o momento histórico em que as narrativas surgiram, para que os leitores de primeira viagem — e até mesmo os mais experientes — possam se situar melhor.
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Policarpo Quaresma
O romance de Lima Barreto, publicado em 1915, apresenta ao leitor um protagonista que não raro é considerado o “Dom Quixote tupiniquim”. O apelido, que faz referência ao clássico de Cervantes, vem do fato de Policarpo Quaresma ser um idealista ferrenho, sempre metido com livros e tomado por ideias radicais para mudar o Brasil.
O cenário em que o personagem está envolvido, no início de 1890, não é dos mais favoráveis para suas ambições. “Aquele Quaresma podia estar bem, mas foi meter-se com livros…”, afirma um general, a certa altura, a respeita do homem que escreveu uma petição para que o tupi-guarani se tornasse língua oficial e nacional do povo brasileiro e depois se juntar às forças do então presidente Floriano Peixoto.
A adaptação e roteiro de O triste fim de Policarpo Quaresma para os quadrinhos são do baiano Gonçalo Junior, três vezes vencedor do Troféu HQMIX, e os desenhos são do paulistano Franco de Rosa, que transita pela nona arte desde os anos 1970 — Flash Gordon e Fantasma são dois clássicos que editou.
A loucura de Simão Bacamarte
O alienista, de Machado de Assis, foi publicado em 1882 e segue festejado como uma das principais obras do autor. O romance reúne, afinal, os principais elementos que fizeram do Bruxo do Cosme Velho um dos maiores escritores do Brasil: discussões a respeito de sanidade e loucura, críticas sociais ácidas e um personagem forte, memorável, o Simão Bacamarte.
“Filho da nobreza da terra e o maior dos médicos do Brasil, do Portugal e das Espanhas” é como Bacamarte, para quem a ciência é o único emprego possível, é descrito no início da obra. Ele será o responsável por fundar, em Itaguaí, a Casa Verde: um típico hospício oitocentistas que abrigará cobaias humanas para seus estudos sobre a loucura.
A adaptação e roteiro de O alienista para os quadrinhos é de Franco de Rosa e as ilustrações são assinadas pelo paulistano Arthur Garcia, que vive profissionalmente das artes visuais desde 1982 e já publicou pelas principais editoras do Brasil.
O Ateneu
O romance mais conhecido de Raul Pompeia, escritor carioca que se suicidou aos 32 anos, foi publicado em 1888 — período em que Machado de Assis estava “na ativa”, o que trazia dificuldades para qualquer prosador da época. O Ateneu, há quem diga, conseguiu driblar as influências do Bruxo.
Na história, Sérgio é um adulto amargurado que rememora o período em que viveu num internato para meninos, o que dá nome à obra, tecendo comentários sobre o cotidiano rígido do local e a respeito de seus colegas, professores e do diretor — o Aristarco Argolo de Ramos, bastante atacado ao longo da obra.
A adaptação e roteiro de O Ateneu para os quadrinhos é de Franco de Rosa e os desenhos ficam por conta do paranaense Toninho Lima, que começou sua carreira na extinta Grafipar — responsável por vários trabalhos de vanguarda no estado em que o artista nasceu.
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Lima Barreto, Machado de Assis e Raul Pompeia
Adaptações e ilustrações: Arthur Garcia, Franco de Rosa, Gonçalo Júnior e Toninho Lima
Melhoramentos
216 págs.
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