VEM AÍ O HALLOWEEN DO SACI
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Domingo é dia do saci e das bruxas

Carlos Franco (reportagem publicada no Jornal10 na edição de 29/10/2021)

Domingo, dia 31 de outubro, as crianças e também os adultos saem fantasiados nas ruas das cidades americanas para brincar, tocar campainhas e pedir nas portas das casas e dos apartamentos decorados para o Halloween, por doces sob a ameaça de travessuras. “Trick-or-Treating” (doces ou travessuras) é a frase mais dita e também a mais ouvida nos festejos em que o cardápio e as decorações giram em torno das abóboras e dos caldeirões ferventes de bruxas.

Um festejo que se espalhou pelo mundo e que, nos Estados Unidos, que o propaga, se desvirtuou inclusive do próprio nome de origem anglo-saxônica que quer dizer “Hallow”, um termo antigo para “santo” e “eve”, que é o mesmo que véspera e que designava, até o século 16 no Reino Unido, na ilha comandada desde 1953 pela Rainha Elizabeth II, a véspera do Dia de Todos os Santos, celebrado em todo o mundo no primeiro dia de novembro. 

Mas como todo o calendário assimilado e tomado emprestado de povos antigos pelo cristianismo teve sua origem, na verdade, no festival com o qual os povos celtas, os irlandeses, celebravam o fim do verão, o Samhain, com a queima em fogueiras de palhas, galhos e folhas depois das colheitas da estação. 

A mudança de equinócios, as estações do ano, sempre foram motivo de celebração para os povos numa época em que eram mais nítidas e influenciavam diretamente sob hábitos e costumes e, sobretudo, o plantio e as colheitas.

Este ritual pagão acabou por decisão dos primeiros papas sendo incorporado pelo calendário religioso. Assim, a festa ganhou o caráter de Dia das Bruxas, que deveriam ser afastadas para a celebração do Dia de Todos os Santos e, com ele, as homenagens aos mortos que estes santos, descendo à Terra, os encaminhariam para o paraíso, adoçando a vida de todos, sem travessuras e maldades.

Como os povos dominantes impõem a sua cultura, sobretudo por meio da língua, os Estados Unidos acabaram por assumir este festejo e propagá-lo pelo mundo. Tanto que a maioria das escolas de inglês no Brasil, mesmo desconhecendo as origens da festa, a mudança de equinócio, a celebram e a tornam presente em nossas cidades. A indústria do entretenimento não perdeu tempo em acoplá-la ao seu calendário e o varejo se incumbiu do resto, com a venda de doces e decorações. Hoje, a data é uma das que figuram no calendário comercial do mundo. Da festa original, restaram as abóboras. E são elas o ícone da celebração de Halloween assim como os caldeirões das bruxas.

No Brasil, no entanto, sempre tivemos um folclore muito rico e mais bem construído do que o americano por povos que se miscigenaram na construção do país – indígenas, negros e europeus – e quem marca por aqui a data é o nosso famoso Saci, que dependendo da região ganha sobrenome de Pererê, Cererê, Saçura e Trique e até o nome de Matimpererê e Matita Pererê, em todos os casos é aquele moleque travesso, de apenas uma perna, que mora nos bambuzais e deles sai para suas travessuras. O personagem é simplesmente genial e inspirou o primeiro livro do escritor Monteiro Lobato que, a partir daí, passou a dedicar sua obra ao universo infantil.

Muito mais bem construído no inconsciente e no consciente coletivo do que as bruxas americanas, o Saci anda ausente das escolas porque as que oferecem o idioma português com sua riqueza cultural perderam espaço para as de idioma anglo-saxônico. Mas que aguardem porque, travesso, o Saci ainda vai aprontar alguma para todos aqueles que o colocaram para escanteio, pois com apenas uma perna, o Saci é bem mais esperto que as bruxas americanas, elas que se cuidem. E neste próximo domingo, estamos combinados, é dia de festa.

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